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s eleições municipais dos três maiores colégios
eleitorais da região metropolitana apresenta uma particularidade cujo
significado extrapola os seus limites locais. No imenso giro à direita que se
verificou na maioria dos municípios brasileiros, com o recuo dos partidos de
centro-esquerda no comando dos executivos locais, a polarização fica entre
representantes "ilustrados" da oligarquia e representantes da igreja.
É como se fosse uma lumpem-eleição, para uma lumpem-política. Isto porque os
efeitos da Lava-a-Jato, conjugados com os esforços patrióticos da imprensa
golpista, o maior atingido nessa campanha foi o Estado laico e republicano.
Tinha previsto, em algumas ocasiões que as consequências da desconstrução
sistemática das instituições políticas republicanas levaria ao descrédito dos
partidos mais à esquerda e o reforço do voto evangélico, nestas eleições.
Infelizmente, foi isso que aconteceu.
Em Pernambuco, existe a especificidade do
predomínio (não hegemonia) de uma oligarquia familiar, representada por uma
matriarca que se apresenta nos atos da campanha eleitoral como detentora de uma
memória de lutas e conquistas. Nada mais falso do que isso. Pretensões
eleitorais de um grupo político mesquinho, perseguidor, que vem se utilizando
da máquina administrativa e de uma intensa propaganda enganosa para convencer o
eleitor desavisado de que votar na esquerda e em seus candidatos, é votar no
atraso, no ultrapassado, no passado. Mas há algo mais velho e antiquado na
política brasileira do que o domínio de uma família e a imagem de um mulher
sofre dora, mãe de família, sozinha, dedicada a cuidar dos filhos, do que isso?
Do outro lado, a intromissão solerte, decidida e
avassaladora dos religiosos fundamentalistas e ultraconservadores na política
municipal. Houve uma subestimação - para não dizer conivência - do projeto
político desses cristãos reformados na política brasileira. Ao contrário da
Igreja Católica, que desde as comunidades eclesiais de base e a teologia da
libertação, não possui nenhum projeto político para o Brasil e a ocupação de
suas instituições laicas e republicanas, esses crentes na vinda próxima de
Jesus, não hesitam diante de nada, quando se trata de evangelizar, catequetizar
e cabalar o voto alheio, ora para sua igreja, ora para seu candidato ou
partido. Dois dos maiores municípios da região metropolitana estão entregues a
um duelo de difícil escolha para o eleitor democrático e republicano.
Escolher entre a Igreja e....a oligarquia ou o
velho e surrado clientelismo municipal. Compadeço-me - como o cristão que não
sou - de um dilema eleitoral como esse. E me regozijo de votar num colégio
eleitoral onde se trava, aí sim, uma batalha decisiva entre um preposto (um
"técnico") da oligarquia local e uma proposta de centro-esquerda,
voltada para as questões sociais, da cidadania, da qualidade de vida dos
recifenses, do lazer, do transporte público, da educação de qualidade, da
manutenção do sistema único de saúde etc.O Recife pode ser o contraponto
necessário e oportuno a esse voto de direita, fascista, de uma classe média
conservadora, amedrontada - outra vez - com a mobilidade social das camadas
populares. Vamos às urnas com a consciência de que se trava uma batalha muito
importante entre a afirmação da cidadania republicana e seus direitos e
conquistas e a falácia, as mentiras, a propaganda cara e enganosa de um
representante de um grupo familiar local que se apresenta como herdeira das
melhores tradições políticas de Pernambuco!
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